Publicamos informações sobre as obras desse ilustre escritor por sua contribuição à literatura com registros históricos da nossa região
Esmeraldo Lopes
Apresentação.
VOZES
DO MATO é parte da memória de um tempo. É uma memória em memória de todos
aqueles que a fizeram: os já finados e os que ainda respiram neste mundo. Seu
objetivo é tão-somente registrar parte daquilo que foi e o que o vento do tempo
parece querer nos esconder; servir como instrumento de rememorização para aqueles que, de alguma forma, entraram
em contato com esse tempo ou o vivenciaram; fazer chegar ao jovem descendente
do homem do campo alguns aspectos da vida de seus ancestrais e, eventualmente,
fornecer pistas a quem se interesse pelo pensamento e estilo de vida do
caatingueiro. A estes se dirige.
Divide-se VOZES DO MATO em três partes: “Coisas daqui”
reporta-se a uma época onde as ingerências do mundo exterior eram quase
inexistentes (anos 40 a 60); “Coisas que vêm de longe” tenta a bordar o impacto
de alguns elementos do mundo exterior, na vida da caatinga (meados da década de
60, início da década de 70) e “Progresso” pretende colocar em discussão a
localização do caatingueiro e da caatinga no atual contexto histórico. A
repetição e a monotonia dos textos que compõem suas partes, mais do que um
estilo, retrata o ser e agir da vida na caatinga: nosso limite. Acredito, no
entanto, que tais textos poderão trazer alguma contribuição e estímulo para que
nossa gente comece a debruçar-se sobre si, a se entender melhor e, até, trazer
à luz outros tantos aspectos aqui não tocados ou mesmo redimensionar os já
tratados.
A
realização do presente trabalho foi impulsionada por dois motivos: um de
caráter histórico, de redescoberta de identidade e de auto-afirmação cultural
(1975); outro, de natureza emocional, em um momento difícil de minha vida
(1986). Esses dois motivos influenciaram o trabalho em todo o seu percurso e
deram sua tônica. Vozes e visões surgiram do tempo de longe, futucando as
brenhas do passado, querendo dar ferroadas, chicotadas e esporadas em um
presente incerto e que, mesmo assim, descortina-se em futuro.
Saudosismo?
Não fez parte de minha intenção. Cecília Meireles já nos ensinou que “não se pode resgatar uma tradição interrompida...
e repeti-lo seria fazer perdurar um texto ininteligível, mal copiado sem
nenhuma eficácia. Letra disforme e espírito perdido”.
Esmeraldo
Lopes
Curaçá/Juazeiro
– Outubro de 1990.
disponível para download : http://www.esmeraldolopes.com/
Esmeraldo Lopes
Com OPARA,
Esmeraldo Lopes procura registrar a trajetória que formou a história e a
sociedade da gente que habita(ou) o Submédio São Francisco ao longo de mais de
400 anos. A história começa com os moradores originais, os índios, e termina no
tempo presente, 1997, às portas do novo milênio. O livro impressiona pela
constância de violência, destruição, muita dor e humilhações sofridas pelos
índios – nosso antepassado mais remoto, vaqueiros, agregados, e, mais
recentemente caatingueiros e trabalhadores, em geral.
A certa altura do livro, relata-se o massacre de 500 índios
rendidos, promovido pelos portugueses colonizadores. Um fato cruel, longínquo,
que o autor traz para o presente neste momento que o Submédio do São Francisco
deslumbra-se com inserções no comércio globalizado. Esmeraldo registra momentos
como este de nossa história, não como um garimpador de tragédias, mas como um
pesquisador e, mais que isso, um cidadão profundamente engajado na vida do seu
lugar, que compreende nas informações coletadas em vasta bibliografia, um fio
que explica uma boa parte da infelicidade do nosso povo premido num universo de
arrogância e hostilidade construído pela elite ao longo do tempo.
Neste OPARA, Esmeraldo conta história com H maiúsculo
mesmo. E não o fez por deleite
intelectual. Sua vida, desde que retornou à região, em 1982, como sociólogo, é
marcada por um empenho crescente em por na ordem do dia discussões e
encaminhamentos políticos, sociais, econômicos e culturais, pontos de vistas e
interesses do povo simples e marginalizado, a grande maioria. Este livro é
prova desse esforço. Ele nasceu de uma constatação óbvia: as elaborações
intelectuais acerca do presente e do futuro da região, careciam de um elemento
essencial: o passado. Sem ele, continuar-se-iam os discursos diletantes, o
compromisso circunstancial com os interesses da nossa gente.
Entre o início e a finalização do livro, lá se foram cinco
anos. Finais de semana, férias consumidas em leituras, redações, reflexões
solitárias exasperantes, conversas, discussões. Não bastasse conjugar esse
esforço com a labuta do dia-a-dia de professor e pai, Esmeraldo ainda bateu-se
contra o descaso de prefeitos das cidades da região para com a memória de seus
municípios. Os prédios, com nomes que sugerem bibliotecas, não abrigam livros
que falem da história da região. Muito da bibliografia consultado só foi
possível com a boa vontade de amigos de São Paulo e Recife. Na consulta
bibliográfica, o lapidar meticuloso de quem sabe de uma triste verdade: aos
índios, vaqueiros, beiradeiros, oprimidos, não foi dada a chance de contar sua
parte da história. A finalidade deste OPARA é contar esta HISTÓRIA.
(Trecho do livro)
A MISSÃO DE NOSSA SENHORA DAS GROTAS
Esmeraldo Lopes
Era ainda a
passagem do joazeiro o ponto de travessia das boiadas que de Pernambuco e Piauí
eram levados em direção à Salvador. O pequeno aglomerado humano formado do lado
baiano mantinha-se constituído de pessoas pobres e oprimidas que tentavam
sobreviver através de prestação de vários tipos de serviços aos viajantes,
principalmente boiadeiros. Esta pequena aglomeração, embora existisse desde
cerca de 1680, não tinha se desenvolvido. As aglomerações mais importantes eram
Pambu (*) e Cabrobo (**).
Nas ilhas e nas imediações do Rio
São Francisco, próximas à passagem Joazeiro, e nas imediações do Rio Salitre,
habitavam índios já dominados. Com o objetivo de convertê-los à religião
católica, missionários franciscanos instalaram-se a uma certa proximidade de
aglomerado já existente, aí fundaram a Missão Nossa Senhora das Grotas, no ano
de 1706(Miranda, 1969:172). Ao instalar-se, uma missão tinha direito, concedido
pelo rei de Portugal em 1700 (Calmon, 1983:116), de reservar uma légua de terra
em quadro para cada aldeia existente (Freire, Felisbelo, 1906:139). Como os
Franciscanos instalaram a sede da missão na Passagem do Joazeiro, as terras
onde hoje se situa Juazeiro pertenceram originalmente à ordem religiosa e aos
índios que nela foram aldeados por força de ordem régia.
O trabalho dos franciscanos
consistia em catequizar os índios e integrá-los ao modo de vida dos
colonizadores. Essa integração não proporcionava uma condição de igualdade entre
índios e portugueses. Muito pelo contrário. No que pese a boa intenção dos
religiosos, o que faziam com seus trabalhos era terminar a obra iniciada com os
conquistadores da terra. Se estes haviam reduzido os índios a poucos indivíduos
por meio de assassinatos e perseguições, cabia aos franciscanos eliminá-los
culturalmente, retirando o pouco que ainda conservavam de si mesmos, como a
prática de rituais e de alguns outros modos de vida. O grande trunfo dos
evangelizadores franciscano era transformar o índio em vaqueiro, em agricultor,
e as mulheres em serviçais dos portugueses e de seus descendentes e
dependentes. Os índios da região já estavam alquebrados por essa época, de
forma que os franciscanos nada mais faziam do que amansar índios mansos, que
sem defesa diante da violência dos criadores, acorriam para as missões por
considerarem que elas eram os lugares mais seguros para continuarem a viver
fosse como fosse.
A missão de nossa Senhora
das Grotas reforçou o povoamento da Passagem do Joazeiro. Para este lugar
acorriam não só viajantes, boiadeiros e comerciantes, como também fiéis em
busca de celebração de casamentos, batizados e mesmo para assistirem as missas.
A passagem do Joazeiro transformou – se em pequeno centro, principalmente
porque a existência de padres nas caatingas era um fenômeno raro e assim
permaneceu por muito tempo.
Pensam algumas pessoas que
escreveram e escrevem sobre a história de Juazeiro que a partir da fundação da
missão dos franciscanos, fazendeiros passaram também a estabelecer suas
residências nas imediações dela. Esta ideia não se sustenta. Os criadores que
estabeleceram fazendas na região e trouxeram suas famílias neste período de
colonização, preferiam habitar em suas próprias terras e detestavam viver nas
proximidades do rio por causa da insalubridade e perigo que representava. No máximo,
é admissível a ideia de que alguns tenham feito uma pequena casa perto da missão para se alojarem com suas
famílias em dias específicos de alguma solenidade importante. É mais provável
que só a partir de 1750 tenham vindo alguns a se estabelecerem como residentes
temporários, nos períodos de seca inclemente.
A missão dos franciscanos
não deu origem ao surgimento de Juazeiro. Mas não se pode negar sua importância
para evolução do aglomerado e sua posterior transformação em povoado, julgando
vila e finalmente cidade. Entretanto, o que definiu a evolução da passagem do
Joazeiro foi sua localização num ponto estratégico. Este fator foi tão
preponderante que, mesmo depois da abertura da estrada do Pontal, em 1722, que
igualmente ligava as áreas de criação de gado ao litoral baiano (Freire,
Felisbelo, 1906:192), a Passagem do Joazeiro continuou sendo utilizada,
justificando, inclusive, a instalação de uma grande barca para a travessia dos
animais. Tanto assim que após o proprietário da barca obter do Rei de Portugal,
1731, o monopólio da travessia ao longo de todo São o Francisco, só se efetuava
neste ponto (Sobrinho, 1951: XXIII). Reforça também a importância da Passagem
do Joazeiro, as constantes brigas entre Bahia e Pernambuco decorrentes da
cobrança de impostos das mercadorias que transitava por ela.
Não se sabe ao certo o tempo
que efetivamente durou o trabalho dos missionários franciscano com os índios da
Missão de Nossa Senhora das Grotas. Sabe-se que 1819 não havia mais índios
aldeados em suas imediações (Spix e Matius, 1938: 288). Dos índios sobraram
apenas os aspectos físicos de alguns indivíduos, sem a mínima condição de
portar dignidade. Suas vozes não faziam mais eco, estavam sufocadas. “o som das
palavras era rouco, áspero e desagradável. Falavam lentamente, sem acentuação
animada e pareciam ter perdido a energia moral” ( idem :308).
Não eram brancos, não eram
índios, não eram negros. Eram caboclos. Mas isto lhe diziam os brancos porque
eles não sabiam o que eram. O Rio Opara estava definitivamente morto. Só o Rio São Francisco existia.
Mesmo depois de terem
completado seus objetivos os franciscanos permaneceram dando assistência
religiosa ao povoado e aos seus arredores até 1840 quando a Missão e Nossa
Senhora das Grotas foi oficialmente extinta e no seu lugar foi criada um
freguesia (Freire, Felisbelo 1906: 229).
Digitado pela aluna Iris
O destino na palma da mão
Por Nilzete Brito(aluna do curso de Comunicação Social - Jornalismo em Multimeios do DCH III/UNEB)

Como a maioria dos meninos do sertão nordestino, Josemar Martins poderia seguir
a trajetória de seus pais, que, com pouco ou quase nenhum estudo, trabalhavam
na roça o dia todo. Agricultores, eles tinham um sítio no povoado de São Bento,
próximo a cidade de Curaçá. Foi lá que o menino Josemar cresceu e aprendeu a
ler com seu pai que incentivou os cinco filhos a estudar.
A força de vontade do pai em educar os filhos levou a família a mudar-se do
sitio para tentar a vida em outro lugar. Durante a saída, foi necessário levar
as vacas, ovelhas, cabras e os poucos pertences para a beira do rio. Nesse
processo, boa parte se perdeu. Passaram um ano morando às margens do rio em um
terreno que era de sua avó, antes de ir para a cidade de Curaçá. Para Josemar,
essas mudanças foram traumáticas. Além de ter deixado uma vida para trás, o
lugar onde estavam era ainda pior que o de antes. Contudo, foi nessa época que
a vida do menino começou a mudar.
Na cidade, ele teve contato com um mundo muito diferente do que ele conhecia. A
vida nova trazia outros referenciais, causando preocupação de seu pai. Foram
oportunidades que surgiram e eram aproveitadas. Josemar, que já se aventurava
com os primeiros versos, alcançou o terceiro lugar no concurso de poesia da
Primeira Semana Cultural de Curaçá. Sua primeira poesia lhe rendeu muitas
outras. Em 1986, lançou o livro “Come-Tendo Poesias” com seu amigo Pinduka.
A MÃO, primeira poesia, um tanto infantil, conquistou o
terceiro lugar no Concurso de Poesia da Primeira Semana Cultural de Curaçá,
ocorrida entre os dias 7 e 12 de fevereiro de 1984.
A MÃO
A mão é sofredora
Pois é batalhadora a cada dia
Se ela fosse um pouquinho mais forte
Nem mesmo a morte lhe detia
Pois é a mão que trabalha
E batalha e agasalha o corpo inteiro
A mão não faz planos
Mas transforma o ser humano em um guerreiro
Pois é com a mão que o guerreiro batalha
E quando ela não falha ele vence tudo
É a mão que faz as menções
Nas conversações de qualquer mudo
É a mão que abotoa a camisa
Pra livrar da brisa o coração
É a mão que passa sobre o peito
Quase sem jeito com a dor da paixão
É a mão que num gesto de apelo
Penteia o cabelo pra mudar a feição
É a mão que desliza no rosto
Branco de desgosto ou de aflição
É a mão que aperta outra mão
Numa saudação de amizade
É a mão que semeia a semente
Pra sustentar mais na frente a humanidade
É a mão que no decorrer da vida
Amassa a comida que todos consomem
É a mão que planta e alimenta
É a mão que sustenta a vida do homem.

O lançamento do livro O Mesmo Outro, ocorreu no dia 22/12/2011, no Canto de Tudo,
Departamento de Ciências Humanas, UNEB, em Juazeiro.
Os interessados em adquirir o livro podem fazê-lo pela
internet, na Livraria Asabeça, no endereço: <
http://www.asabeca.com.br/detalhes.php?prod=5700&kb=107>.
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