quarta-feira, 27 de junho de 2012

Velho Chico e o Vapor

Foto do acervo pessoal do saudoso Cosme


VELHO CHICO E DONA VAPOR

Mariana Oliveira


Dona vapor é bela, seu coração é tão imenso e livre,
antigamente viajava embalada por águas de sonhos e já é bem velhinha,
 mas nunca deixou de sonhar e amar,
amar muito aquele a quem entregou seu coração
 com tanta pureza, tanta paixão, tanta beleza!
Dona Vapor leva nas suas lembranças passeios ao sol,
risonhas crianças a brincar, a banhar-se
nas gotas clarinhas e serenas do seu velhinho,
 do seu amado velhinho, era Opara seu nome de índio,
Opara de águas que não param de correr, 
mas depois ficou conhecido como Chico, 
o velhinho bem amado do coração de Dona Vapor.
Lavadeiras lavam as dores do coração nas beiras do rio,
marujos navegam nas águas de sonhos embalados nos vapores e barcas,
 com as noites, as estrelas, o sol, os pássaros.
 Pescadores buscam o alimento e alimentam almas
de histórias e cantigas em noites de luar,
em dias de peleja e dias de descansar.
E Dona Vapor, que já não navega mais,
 carrega na sua lembrança vidas de tempos atrás,
histórias contadas, das festas, da marujada, do Bumba-Meu-Boi,
das rodas de São Gonçalo,
tudo que um dia foi, motivo de rosto risonho.
E fala para seu velho Chico, para o Vento, para si mesma: 
‘‘lembro de todas as viagens que fizemos juntos,
 as brincadeiras que brincamos, os perigos que passamos
envolvidos nas noites de tempestades.
Lembro até de quando você brigava comigo e eu ria,
 eu ria...porque eu sabia que logo que tudo passasse, 
 lá pelo amanhecer do dia, o sol ia nascer brilhante, mágico e galante,
nos iluminando a alma, e você se acalmaria.
 Então a gente se amava, mais e mais e celebrava, coisas que se foram um dia...’’
Chico canta o seu canto de águas doces, 
‘‘Eu sempre estarei aqui,
no   silêncio e na paisagem, nos corações, nas viagens,
 bem aí dentro de ti.
A imensidão do céu que me acompanha,
me leva a conhecer mundos, horizontes, cidades,
vejo a solidão, a paixão, a saudade, vejo a despedida,
 os caminhos da vida e da liberdade.
Minhas veias são correntes, que jamais irão secar,
pois homens, mulheres, bichos, crianças, 
vêm a mim se alimentar, trazem as suas almas
 e buscam nas minhas águas se renovar,
sinto a tristeza querendo me pegar e logo digo pra ela:
vai-te embora pr´acolá, sinto a veia querendo parar,
sinto dor, mas vivo e sobrevivo, insisto e sigo e vou,
correntes e correntezas, grande ser da natureza,
irmão do homem, irmão da flor.’’
E o tempo continua a embalar
o Velho Chico do nosso coração, as lavadeiras, os pescadores,
 os amantes, os amores, o vento com seus lamentos,
 seus cantos de sentimentos,
os bichos e encantados, sereias e apaixonados,
Petrolina, Juazeiro, meninos e velhos barqueiros,
Juazeiro e Petrolina, sua cor, sua voz, o seu cheiro,
esta terra nordestina.
Temos grande esperança, que também nossas crianças
Possam com o Velho Chico brincar e crescer
Ele nos alimenta,  nos dá força, nos sustenta
Nos  fascina   e faz viver.


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